"Primeiro Deus criou o homem, mas depois... bom, depois Ele teve uma idéia melhor", bem melhor!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Amigo de si mesmo, por Martha Medeiros

Em seu recém-lançado livro Quem Pensas Tu que Eu Sou?, o psicanalista Abrão Slavutsky reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta, em capítulos com títulos instigantes como Se o Cigarro de García Márquez Falasse, Somos Todos Estranhos ou A Crueldade é Humana. Mas já no prólogo o autor oferece a primeira pílula de sabedoria. Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: "Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo".

Como sempre, nosso bem-estar emocional é alcançado com soluções simples, mas poucos levam isso em conta, já que a simplicidade nunca teve muito cartaz entre os que apreciam uma complicaçãozinha. Acreditando que a vida é mais rica no conflito, acabam dispensando esse pó de pirilimpimpim.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: "Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza". É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto "ser amigo de si mesmo".

Texto publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, em 04/10/2009.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Relacionamentos e rotina: combinam?

Pronto, falei em rotina e você já pensou: que coisa chata! Pois é, quando pensamos em rotina, logo nos lembramos do sentido negativo que esta palavra tem. Você digita rotina no Google e logo aparece uma série de artigos sobre como fugir da rotina, pois a definimos como uma repetição monótona das mesmas coisas, fazer tudo sempre igual, de forma cansativa. Mas na verdade, a origem do termo é derivada da palavra francesa route, que significa rota, caminho, itinerário habitual. Se pensarmos em rotina como um caminho seguro, reto, uma rota da qual não devemos nos desviar, vamos perceber que, ao invés de fugir da rotina, devemos buscar encontrá-la.

E quando falamos de rotina, lembramos também de relacionamentos, de viver junto, afinal quando encontramos alguém bacana para dividir a vida, relacionamento é uma das melhores coisas que podem acontecer. O problema é dar certo. Mas como definir este “dar certo”? Bom, vamos tentar, afinal você sabe que seu casamento deu certo se ele lhe fornece mais, muito mais, que a simples função tradicional de “constituir família”. Se der certo, ou você tem muita sorte ou fez uma opção pensada, adulta. É isso mesmo, o casamento, em primeiro lugar, depende da escolha certa da pessoa que vai viver ao seu lado, misturando a vida dela com a sua. E essa história de que os diferentes se atraem vale para a física, não para a psicologia. Não é necessário que os dois pensem sempre de forma igual, concordem em tudo, mas é fundamental que tenham escalas de valores compatíveis, hábitos que não se choquem e, principalmente, projetos comuns.

Parece tão simples, não é? Ao contrário, isso é bem difícil. Afinal, mesmo que todas essas condições sejam respeitadas, o casamento ainda tem lá seus inimigos, e não estou falando da inveja dos vizinhos, e sim dos capetinhas que se acomodam nos cantos da casa e que não são varridos com firmeza. O casamento precisa ser cuidado, polido, arrumado, temperado, ou pode murchar, mofar, sofrer, escorrer pelo ralo da indiferença e da acomodação.

A famosa rotina é, com imensa freqüência, acusada de ser a grande vilã. “Nosso casamento não resistiu à rotina”, alegam os recém-separados, como se a responsabilidade estivesse fora deles. A monotonia não bateu na porta e entrou sem ser convidada. Ela nasceu da relação. É uma doença que não foi detectada a tempo ou não foi tratada. E vamos começar esclarecendo que estou falando de duas coisas diferentes. Rotina é a repetição sistemática de uma conduta. Monotonia quer dizer que essa conduta é chata, sem sabor.

Rotina, como já disse, não é necessariamente ruim e, para algumas coisas, é até necessária. Para obter bons resultados no estudo, no trabalho e na ginástica, por exemplo, é necessário que as atividades sejam repetidas sistematicamente, pois é de sua constância que aparece o resultado.

Casamento também é assim. Estar casado com alguém é conviver diariamente com um sem-número de pequenas rotinas que podem ser maravilhosas. Ou não? Talvez a maneira como nós encaramos a rotina seja a chance de avaliar se temos ou não um bom casamento. Ou, pelo menos, se estamos precisando fazer alguns ajustes. Estar casado com alguém significa dormir com essa pessoa todas as noites e acordar ao lado dela todas as manhãs. Mas gostar disso significa ter um bom casamento?

A rotina de um bom casamento é composta por um imenso conjunto de minúcias adoráveis. Beijar as costas do outro antes de dormir, levantar primeiro de manhã para ir ao banheiro e deixar a escova dele já com pasta de dente em cima da pia, servir, um para o outro, a primeira xícara de café, secar a louça enquanto o outro lava, ligar do trabalho no meio da tarde... São rotinas, sim, mas são maravilhosas quando nelas há vontade em oposição à obrigação.

Estar casado com alguém é dividir os momentos que se repetem e, por isso mesmo, se aprimoram. Já a monotonia, esta é a vilã não só do casamento, mas da própria vida. Ela mata a criatividade, afoga a alegria, sufoca as relações. Monotonia significa manter o mesmo tom, mesmo tendo à disposição uma grande variedade de tantos outros.

O casamento se alimenta da rotina, mas é envenenado pela monotonia. Repetir as ações é o único modo de aprimorá-las e chegar à excelência, no diz Aristóteles, que amava a sabedoria. Não gostar das ações que se repetem é o melhor meio de chegar às trevas, como queria Mefistófeles, que odiava a luz. Acompanhe esta história:

Emma era uma bela e jovem mulher, inteligente, encantadora. Casou-se com Charles, médico recém-formado, com um futuro promissor. O casamento perfeito, diria qualquer um; pareciam ter sido feitos um para o outro. Mas Emma, não obstante amasse e respeitasse Charles, em nome de quebrar a rotina, resolve traí-lo. Como não se tivesse saciado, continuou a busca, colecionando amantes e aventuras até que isso a conduziu, junto com Charles e toda a família, à ruína moral, social e financeira”. Esse breve parágrafo é uma síntese do livro Madame Bovary, de Gustave Flaubert, o escritor francês que, no século 19, provocou discussões acaloradas e foi alvo de um processo judicial por promover a imoralidade com sua obra. A acusação ajudou a colocar a obra de Flaubert entre as principais referências à complexidade da alma humana. Absolvido, acabou dedicando a obra ao promotor que o acusava, com a ironia inteligente que caracteriza seus textos.

Emma odiava a rotina monótona da vida pequeno-burguesa de esposa de médico em uma localidade do interior da França, mas, em vez de tentar melhorar sua vida, influenciando seu marido entediante com alegria e emoção, buscou aventuras fora do casamento. A partir desse expediente, não só não encontrou o que buscava como ainda acabou com o pouco que lhe restava. A virtude de Emma é ser inconformada, mas seu engano é o foco de sua atenção. Ela não tenta mudar sua vida e sim construir uma vida paralela. Flaubert foi um escritor de obra pequena, mas reconhecido pela perfeição de seus escritos. Gastou cinco anos escrevendo Madame Bovary, e sempre dizia que estava à procura da mot juste, a palavra exata que servia para representar uma idéia. Se vivesse hoje, a mot juste para Madame Bovary talvez fosse a de neurótica insaciável, daquelas que buscam o lenitivo para sua vida vazia em shoppings, motéis e bares. O tipo da pessoa que procura a solução onde o problema não está.

Não, o problema não está na rotina, mas na monotonia. Ainda que haja forte conexão entre ambos, esses substantivos que se adjetivam com freqüência não são sinônimos. A rotina monótona difere da monotonia rotineira. A primeira precisa de atitude, a segunda de tratamento. Se a rotina, que é inexorável, está monótona, precisa de novos temperos. Se a monotonia já virou rotina, é possível que precise de novos ingredientes.

Não entendeu? Vou tentar de novo: se seu casamento está monótono apesar de ter componentes construtivos, que valem à pena, basta que algumas iniciativas sejam colocadas em prática. Que tal um motel depois de um show? Por que não mandar flores para sua mulher sem motivo algum, ou fazer uma massagem relaxante em seu marido-executivo-estressado em plena quarta-feira? Ou então preparar um romântico jantar a dois. Esses são exemplos de temperos, de especiarias que dão sabor e impedem a deterioração da relação. Amanhã a vida continua, mas parece que o sol está mais brilhante e o trânsito está fluindo melhor. Mas se o desencanto se instalou, e não há mais por que lutar, melhor que prolongar a agonia é ser honesto e enfrentar o trauma e a dor que sempre acompanham as grandes decisões, e partir para outra.

Dona Flor, personagem inesquecível de Jorge Amado, amava Vadinho pelo lirismo de sua vida, mas sofria com sua falta de responsabilidade. Morto Vadinho, a viúva sofre, chora, conforma-se e, passado um tempo, casa-se de novo. Dessa vez com Teodoro, farmacêutico respeitado, correto, estável, com quem ela conhece uma vida nova, segura, calma, mas monótona. Então o escritor baiano aponta para o final feliz. O espírito do Vadinho volta, e Flor, não resistindo aos encantos do falecido marido, torna-se sua amante. Eis que a morena conhece então a felicidade através de seus dois maridos. O que lhe dá monótona segurança e o que lhe fornece a aventura de uma vida de paixões.

Não, o autor de Dona Flor e Seus Dois Maridos não quer sugerir que você tenha dois maridos; ou duas mulheres. Ele apenas lembra que todos nós temos, dentro de nós, um Teodoro e um Vadinho, Apolo e Dionísio, lógica e paixão, rotina e aventura.

Basta abrir a porta certa no instante certo.

A vida segue a estrada que você der a ela.
Você pode ser o pincel e pintar a sua rota.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Resoluções de Ano Novo: é hora de repensar a vida...

Hummm, 2012 bate a nossa porta?

Antes de abrir que tal fecharmos a porta de 2011 com cuidado?
Como?
Eu explico: faremos uma breve retrospectiva de tudo que fizemos durante o ano que termina, ou seja, um balanço geral da vida. Se fizermos isso, tenho a impressão que perceberemos que não atingimos os nossos objetivos, ou que metade daquilo que desejamos não se realizou. Deixa adivinhar: você não casou, não trocou de emprego, não ganhou na Mega Sena, não fez um tour pelo mundo.
Acertei?

Preciso então confessar: sou contra resoluções de ano novo.

Bom, não que eu não goste totalmente, só acho que as pessoas deveriam fazer mais e desejar ou listar menos. Afinal, na primeira semana de janeiro já esquecemos tudo que prometemos agarrados às garrafas de champagne ou pulando ondinhas no Reveillon.

Você vira o ano desejando milhares de coisas, todas certamente muito possíveis, mas passa o resto do ano seguinte pensando ao invés de realizar. Não, queridos, não é o Papai Noel que realizará os seus desejos: é você!

Se você não fizer por você, quem fará?

Em uma iniciativa de mudanças, é preciso respeitar a si mesmo. Se fizer enormes esforços acabará cansado e, certamente, estará propenso à recaídas. E, ao final, a probabilidade de chegar ao finalzinho de 2012 com metas não cumpridas é grande. Portanto, rasgue as listas. Aprenda a escolher suas lutas e encare 2012 com um passo de cada vez.

Por isso deixo aqui meus votos de ano novo: fechem a porta de 2011 com cuidado e façam mais por si mesmos. Desejem, mas acima de tudo trabalhem pra realizar, porque depois não adianta choramingar, viu?!

Feliz 2012 pra todos nós!

Um grande beijo e até o ano que vem...

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL!!

Minha amigona Claudia Couto me apresentou este texto da Martha Medeiros e é perfeito para essa semana.
Aproveitem!!

Mamãe Noel (Martha Medeiros)

Sabe por que Papai Noel não existe? Porque é homem. Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias? Que vai carregar nas costas um saco pesadíssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor? Que toparia usar vermelho dos pés à cabeça, ele que só abandonou o marrom depois que conheceu o azul-marinho? Que andaria num trenó puxado por renas, sem ar-condicionado, direção hidráulica e air-bag? Que pagaria o mico de descer por uma chaminé para receber em troca o sorriso das criancinhas? Ele não faria isso nem pelo sorriso da Luana Piovani! Mamãe Noel, sim, existe.

Quem é a melhor amiga do Molocoton, quem sabe a diferença entre a Mulan e a Esmeralda, quem conhece o nome de todas as Chiquititas, quem merecia ser sócia-majoritária da Superfestas? Não é o bom velhinho.

Quem coloca guirlandas nas portas, velas perfumadas nos castiçais, arranjos e flores vermelhas pela casa? Quem monta a árvore de Natal, harmonizando bolas, anjos, fitas e luzinhas, e deixando tudo combinando com o sofá e os tapetes? E quem desmonta essa parafernália toda no dia 6 de janeiro?

Papai Noel ainda está de ressaca no Dia de Reis. Quem enche a geladeira de cerveja, coca-cola e champanhe? Quem providencia o peru, o arroz à grega, o sarrabulho, as castanhas, o musse de atum, as lentilhas, os guardanapinhos decorados, os cálices lavadinhos, a toalha bem passada e ainda lembra de deixar algum disco meloso à mão?

Quem lembra de dar uma lembrancinha para o zelador, o porteiro, o carteiro, o entregador de jornal, o cabeleireiro, a diarista? Quem compra o presente do amigo-secreto do escritório do Papai Noel? Deveria ser o próprio, tão magnânimo, mas ele não tem tempo para essas coisas. Anda muito requisitado como garoto-propaganda.

Enquanto Papai Noel distribui beijos e pirulitos, bem acomodado em seu trono no shopping, quem entra em todas as lojas, pesquisa todos os preços, carrega sacolas, confere listas, lembra da sogra, do sogro, dos cunhados, dos irmãos, entra no cheque especial, deixa o carro no sol e chega em casa sofrendo porque comprou os mesmos presentes do ano passado?

Por trás do protagonista desse megaevento chamado Natal existe alguém em quem todos deveriam acreditar mais.

(Dezembro de 1998).



terça-feira, 22 de março de 2011

Viver ou deixar para mais tarde?

Trecho do livro Divã, de Martha Medeiros:

Mônica me disse outro dia que sente inveja de mim porque eu não tenho medo de nada. Eu respondi, como assim? Eu morro de medo de um monte de coisas. Diz uma, ela me provocou. Tenho medo da morte, falei. Ah, essa não vale, quem não tem? Já eu tenho medo de cachorro, medo de altura, medo de andar de Kombi, medo de ficar sem dinheiro... Mentira, Mônica, você é valente, esses medinhos aí não contam. E ela: mas nem medinho você tem, criatura. Diz pra mim um.

Lopes, fiquei ali pensando. Medo do escuro? Já tive, hoje não. Medo de avião? Nenhum. E no entanto sinto um medo asfixiante, um medo que não consegui explicar pra Mônica porque não é um medo catalogado, não é assim como um medo de cobra, trovão, seqüestro. Eu teria medo de saltar de pára-quedas, eu acho, mas isso nem se compara com o medo que eu sinto de mim.”

Ontem à noite, antes de dormir, abro ao acaso este livro e o trecho salta-me aos olhos. Incrível falar de medo, se este é o sentimento que me atormenta. Mas que medo exatamente? Medo de mim? Medo das minhas escolhas? Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê. O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vai saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade. E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro. Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.

Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingimos um pouco de resistência, mas sabemos que para sempre é impossível recusá-lo.







terça-feira, 18 de janeiro de 2011

COMPROMETIDA

Antes de qualquer coisa, preciso confessar que sou avessa a best-sellers. Confesso também que em 2009, aceitei a sugestão do Clube de Leitura com certa reserva. Livro eleito: "Comer, rezar, amar", de Elizabeth Gilbert. O que não gosto são as frases na capa: "mais de 4 milhões de livros vendidos" e "seja também a heroína da própria jornada". “Cheirava" a livro de auto-ajuda, o que me dá calafrios. Mas, felizmente, posso me enganar (e não tenho vergonha de admitir!). O enredo é simples: uma jornalista de 30 e poucos anos larga toda uma vida traçada e previsível (inclusive um casamento "feliz") e vai à Itália, Índia e Indonésia atrás de seu próprio caminho. Sim, parece clichê... e é mesmo! Mas as nossas vidas muitas vezes são também. Agir de acordo com o que a sociedade impõe, sobretudo com o peso da idade, é absurdamente duro, tanto que acabamos seguindo caminhos distantes do que realmente queremos e acreditamos. Caminhos sem paixões (no sentido amplo), de culpa (culpando e sendo culpado) e de frustrações. Definitivamente, esta não é a obra literária da minha vida, mas me fez viajar nas aventuras da autora (pelo mundo e dentro de si mesma) e pensar sobre a coragem de mudar o rumo.

Foi então que no final de 2010, cai no meu colo “Comprometida”, também de Elizabeth Gilbert. E essa leitura foi difícil. Não conseguia engrenar, mas finalmente venci, terminei e foi ótimo!

Este livro conta a história do que a autora descobriu depois. Durante quase um ano Liz estudou a instituição do casamento. Descobriu, por exemplo, que entre as mulheres hmong - pequena tribo que habita os picos mais elevados das montanhas do Vietnã, da Tailândia, do Laos e da China - não existe a ilusão, tão comum entre as mulheres ocidentais, de que seus maridos serão a fonte principal da felicidade. Ela descobriu também que o casamento romântico, com vestido branco e véu, é uma novidade criada pela rainha Vitória em 1840, e que até 1215, na Europa, para duas pessoas casarem, bastava que fossem adultos e trocassem votos em voz alta e por vontade própria. Mas o que é o casamento hoje, por que nos atrai, e como podemos fazer as pazes com essa instituição conturbada e vital? É o que revela Gilbert. A história começa 18 meses depois do fim do livro anterior, o ano em que a autora enfrentou um divórcio, uma depressão debilitante e outro amor fracassado até que se livrou de todos os bens materiais, demitiu-se do emprego e partiu para uma viagem de um ano pelo mundo, sozinha. Nos últimos capítulos de Comer, Rezar, Amar, Liz Gilbert conhece o brasileiro Felipe. Naturalizado australiano e divorciado, ele vivia na Indonésia quando conheceu Liz, 17 anos mais nova - é ele o "coroa" da dedicatória do novo livro escrita em português até na edição de língua inglesa. "Perto do fim da viagem, encontrei Felipe, que havia anos morava sozinho e tranquilo em Bali. O que veio em seguida foi atração, depois uma lenta corte e, finalmente, para nosso espanto mútuo, amor".

Como todos os que já passaram pelo divórcio, Felipe e Elizabeth, traumatizados, juraram, nunca, em nenhuma circunstância, casar novamente. "Felipe e eu já tínhamos até jurado fidelidade vitalícia um ao outro, embora em particular. O problema é que éramos sobreviventes de divórcios difíceis, e a experiência nos deixou tão feridos que bastava a idéia de um casamento formal - com qualquer pessoa, mesmo com pessoas tão legais como nós dois - para provocar uma sensação pesada de pavor", escreve a autora. Mas eis que problemas com a imigração americana os obrigam a oficializar a união: quando chegavam de uma viagem, um oficial do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos deteve o casal e lhes apresentou uma escolha: ou se casavam, ou nunca mais ele entraria no país dela. "Os limites e termos do nosso relacionamento mudaram da noite para o dia. De repente, nós dois - ambos avessos ao casamento e sobreviventes de divórcios traumáticos - fomos basicamente sentenciados pelo governo a casar. Eu queria fazer as pazes com a idéia do matrimônio antes de mergulhar nele outra vez", conta a autora, decidida a desvendar o mistério do que é na verdade essa instituição "confusa, irritante, contraditória, mas teimosamente duradoura do casamento". Nos dez meses seguintes, enquanto os dois vagaram pelo sudeste asiático esperando que o governo norte-americano os deixasse voltar ao país e se casar, o assunto foi a obsessão da autora: "Enquanto viajava com Felipe num estado de exílio sem raízes e trabalhava como louca para levá-lo de volta aos Estados Unidos para que nos casássemos em segurança, a única coisa em que pensei, a única coisa que li e quase a única coisa de que falei com alguém foi o assunto desconcertante do matrimônio." Com humor e inteligência, Comprometida examina questões de compatibilidade, paixão, fidelidade, tradição familiar, expectativas sociais, os riscos de divórcio e as responsabilidades mais mundanas. Liz Gilbert desfaz os mitos, desmonta os medos, constrói uma perspectiva histórica e troca, enfim, fantasias românticas por vitais compromissos emocionais. Assim, o livro se torna uma celebração do amor - com toda a complexidade e as consequências que o amor verdadeiro, sem ilusões, sempre acarretará.

Se vocês conseguirem vencer as primeiras páginas, irão encontrar um relato interessante, uma pesquisa série e comprometida com um dos assuntos mais difíceis de todos os tempos: relacionamento.

Ou alguém aqui acha que viver à dois é fácil?

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Despertar...

Um novo caminho sempre se abre!
Bom, vamos lá! Começar 2011 com as grandes verdades da vida.
Uma delas: não é maravilhoso olhar para trás e sentir orgulho da sua história? Bom, eu pelo menos acredito nisso.
Nada de ficar se culpando, neurotizando situações.
Afinal, é mais do que falado que tudo, absolutamente tudo é aprendizado. Então o grande lance é viver cada momento como se a receita da felicidade fosse o aqui e o agora.
Nossa! Parece tão simples, não é?
Mas a vida prega peças.
Chove demais (aqui em São Paulo isso é fato!), fura o pneu, o despertador não toca, mas pensa bem: tem graça viver sem rir de gargalhar pelo menos uma vez ao dia?
Tem sentido ficar chateado durante o dia todo por causa de uma discussão?

Minha meta: viver bem.
Afinal, 2010 foi um ano cheio.
Cheio de coisas boas e realizações, mas também cheio de problemas e desilusões.
Normal.
Às vezes se espera demais das pessoas.
Normal.
A grana que não veio, o amigo que decepcionou, o amor que acabou.
Normal.
Provavelmente 2011 não será diferente.
Muda o ano, o século, o milênio, mas o homem não muda.
É cheio de imperfeições, a natureza tem sua personalidade que nem sempre é a que a gente deseja, mas e aí? Fazer o quê? Acabar com seu dia? Com seu bom humor? Com sua esperança? Jamais!

O que eu desejo para todos nós é sabedoria.
Que saibamos transformar tudo em uma boa experiência.
Que todos possamos perdoar.
Perdoar para mim é sentimento.
Sentimento dificílimo, mas também nobre e necessário para seguir em frente.
Caso contrário, parece que a vida trava, fica estagnada, não flui.
Perdoar acima de tudo é libertador.

Eu sei, eu sei, sofreu demais, não foi?
Mas chorar de dor, de solidão, de tristeza, faz parte do ser humano.
Não adianta lutar contra isso.
Mas se a gente se entende e permite olhar o outro e o mundo com generosidade, as coisas ficam diferentes.

Desejo para todo mundo esse olhar especial!
Porque 2011 pode ser o bicho, o máximo, maravilhoso, lindo, espetacular ou pode ser puro orgulho! Depende de quem?
Apenas de nós e, principalmente, de aprendermos (finalmente!) em não colocarmos nossa felicidade no outro, mas em nós, em quem somos e no que queremos.
Pode ser?
Tranquilo?
E que seja!

Feliz olhar novo, meus amigos!